TBC Turismo de Base Comunitária
Populações Tradicionais
Professor Carlos Diegues / USP
Como reconhecer
- dependência e até simbiose com a natureza, os ciclos naturais e os recursos naturais renováveis a partir do qual se constroe um “modo de vida“
- conhecimento aprofundado da natureza e de seus ciclos que se reflete na elaboração de estratégias de uso e de manejo dos recursos naturais. Esse conhecimento é transferido de geração em geração por via oral
- noção de território ou espaço onde o grupo se reproduz econômica e socialmente
- reduzida acumulação de capital
- moradia e ocupação desse território por várias gerações, ainda que alguns membros individuais possam ter-se deslocado para os centros urbanos e voltado para a terra dos seus antepassados
- importância das atividades de subsistência, ainda que a produção de mercadorias possa estar mais ou menos desenvolvida, o que implica numa relação com o mercado
-
importância dada à unidade familiar, doméstica ou comunal e às relações de parentesco ou de compadrio para o exercício das atividades econômicas, sociais e culturais
-
importância de mito e rituais associados à caça, á pesca e a atividades extrativistas
-
a tecnologia utilizada é relativamente simples, de impacto limitado sobre o meio ambiente. Há uma reduzida divisão técnica e social do trabalho, sobressaindo o trabalho artesanal, onde o produtor e sua família, dominam o processo de trabalho até o produto final
-
fraco poder político, que em geral reside com os grupos de poder dos centros urbanos;
-
auto-identificação ou identificação pelos outros de se pertencer a uma cultura distinta das outras.
Trabalho com Populações Tradicionais
Recomendações do CNPT Centro Nacional de Populações Tradicionais
Devem ser levados em conta 2 aspectos importantes por quem trabalha com populações tradicionais:
- Fazer com que elas não se sintam excluídas, marginalizadas, pelo fato de terem um sistema econômico e de vida diferentes;
- Que as pessoas passem a incorporar o fato de serem populações tradicionais como uma opção, como uma forma positiva de vida, e não como algo do “destino”.
Recomendações do CNPT Centro Nacional de Populações Tradicionais
- aumentar a produção e a produtividade dos recursos naturais existentes
- reduzir as perdas no processamento de tais recursos
- melhorar o sistema de comercialização no mercado local
- agregar valor aos produtos no local de produção, buscando formas de descentralizar o processo produtivo incentivando o processamento local
- desenvolver novos mercados para os produtos existentes
- desenvolver mercados para novos produtos
- abaixar os custos de implantação de sistema agroflorestais, mediante o aproveitamento de áreas já desmatadas
- reorganizar o sistema de abastecimento de tais populações, mediante atividades associativas que eliminem os intermediários
Normas de Conduta e Premissas Operacionais de Ecoturismo com Comunidades Tradicionais
(Fonte: Instituto EcoBrasil)
-
Respeitar e valorizar a cultura local / regional;
-
Levar em conta o grau de contato das comunidades visitadas;
-
Fazer com que tradições prevaleçam sobre os interesses do turismo;
-
Ser uma atividade complementar e de apoio às atividades tradicionais;
-
Gerar recursos econômicos que ajudem a melhorar a qualidade de vida das populações envolvidas;
-
Fomentar a participação efetiva da comunidade em todo o processo de gestão da atividade em suas terras e/ou região.
Potenciais Impactos Negativos da Visitação a Comunidades Tradicionais
(Fonte: Projeto Ecoturismo em Terras Indígenas, Instituto EcoBrasil, 1990)
-
Estímulo à Vergonha Étnica;
-
Alimentação e Hábitos Higiênicos Diferenciados;
-
Desconhecimento da Cultura Tradicional por parte do Visitante;
-
Falta de Respeito à Cultura e à Privacidade de Comunidades;
- Violação da intimidade;
- Danos e Destruição de Sítios Arqueológicos;
- Desrespeito a Rituais e Locais Considerados Sagrados;
- Imposição de Festas e Rituais fora do Calendário Tradicional;
- Risco de Transmissão de Doenças;
- Dificuldade ou Inexistência de Controle da Visitação ou Iteração;
- Desconhecimento da Legislação Pertinente por partes de Visitantes;
- Introdução de Vícios (álcool e drogas) e Prostituição;
- Desconhecimento dos Hábitos e Costumes de Comunidades, como, p. ex., a nudez em certas comunidades indígenas;
- Exploração e/ou manipulação da mão-de-obra comunitária;
- Concentração de benefícios em famílias de líderes comunitários;
- Marginalização de parte da comunidade com relação aos benefícios gerados pela atividade turística;
- Introdução de falsos valores, sobretudo em crianças e jovens
- Produção de lixo, principalmente não biodegradáveis
- Gestão inadequada dos resultados econômicos;
- Abandono das atividades econômicas habituais;
- Dependência exclusiva de uma só atividade econômica;
- Estímulo a produção “industrial” de artesanato;
- comércio de artesanato e artefatos abaixo do valor justo;
- Utilização de espécies da fauna, flora e minerais como matéria prima de artesanato e artefatos.
TBC Turismo de Base Comunitária
“Turismo de Base Comunitária ou Turismo de Baseado na Comunidade é o termo aplicado a atividades, operações e infraestrutura que dizem respeito a comunidades que recebem visitantes.”
São as visitas aos lugares onde a comunidade está envolvida em mostrar seu povo e sua cultura, seus patrimônios como atrações ou oferecendo mercadorias (produtos agrícolas ou artesanato). É turismo baseado na relação visitante-anfitrião, cuja participação é importante para ambos e deve gerar benefícios econômicos e de preservação para as comunidades e o meio ambiente.
O TBC deve contribuir para a conservação e desenvolvimento, trazendo benefícios econômicos, sociais e culturais para todos os membros da comunidade.
Graus de Participação nas Comunidades
Relacionamento Passivo com os Visitantes
- visitantes observam as atividades da comunidade mas não são feitos passeios ou atividades para os turistas;
- a comunidade faz parte da “paisagem” turística;
- até pode-se cobrar pra tirarem fotografias;
- não haverá benefícios diretos;
- os benefícios diretos para a comunidade serão muito pequenos;
- uma comunidade assim participa do turismo, mas não no TBC.
Relacionamento Indireto com os Visitantes
- venda eventual de frutas (p.ex. frutas, cocos);
- demonstrar habilidade em subir numa palmeira e recebe uma gorjeta;
- alugar imóveis recebendo renda anual mas não tendo qualquer outro papel direto na interação com turistas;
- através da fabricação e venda de artesanato a comerciantes;
- demonstração cultural: folclore – dança, música, “festá”;
- atuarem como guias ou contadores de histórias.
Relacionamento Direto como Fornecedores de Serviços
- com Trabalho: em hotéis, pousadas, camping etc.; como jardineiros, motoristas, barqueiros, garçons, ajudantes de cozinha, cozinheiros, administrativos;
- com Competências: músicos, dançarinos, participando de manifestações culturais etc.
- como Especialistas: construção de embarcações, artesanato, manutenção, guias etc.
Relacionamento Direto com os Visitantes em Atividades Próprias
- Contato Direto / Participação Ativa como Proprietários ou Parceria
Comunidade é proprietária de terras que são administradas por ela, utilizadas para finais turísticos numa base temporária ou permanente. - Organização de Atividades Ocasionais
- espetáculos de dança
- feira de artesanato e alimentos artesanais
- prestação de serviços ocasionais de condutores / guias turísticos
- Atividades Sazonais / Festas / Eventos
- toda a comunidade participa
- atividades de apenas um dia ou mais – até semanas
- as atividades serão negociadas para o turismo pela própria comunidade
- festas dos Santos Reis, do Divino Espírito Santo, etc.
- aniversário e comemorações da comunidade ou da vila
- Pequenos Empreendimentos / Pequenas Empresas Permanentes
- barracas à beira da estrada para venda de alimentos ou artesanato
- lojas e centros de artesanato – comunidade mostra suas habilidades
- serviços de apoio ou condução de visitantes / guias
- cantinas e restaurantes de cozinha regional ou tradicional
- fornecimento de transporte locais e tradicionais – mulas
- hospedagem familiar / Cama & Café (Rio, Fernando de Noronha, Parintins etc.)
Manuais de Turismo
- Manual Indigena de Ecoturismo / Funai-Ministério do Meio Ambiente (1997)
- Manual Caiçara de Ecoturismo de Base Comunitária / Instituto BioAtlântica-EcoBrasil (2010)
- Manuel Haïtien Ecoturisme Communitaire / Albatroz VivaRio 2016
Roberto M.F. Mourão / ALBATROZ Planejamento
Para uso e permissões favor contatar: roberto@albatroz.eco.br
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