Estudos de Caso

Ecoturismo na Barra do Superagui, Paraná 

Coordenação: Roberto M.F. Mourão, ALBATROZ Planejamento (nov. 1999)

Autoria: Marcos Rodolfo Amend
          Mestre em Engenharia Florestal
         Coordenador Técnico do Programa MPE

 

Contexto Regional

Superagui é uma ilha no município de Guaraqueçaba, Estado do Paraná, situada próximo à divisa entre os estados do Paraná e de São Paulo.

Em 1852 foi fundada a Colônia Agrícola de Superagui, por Carlos Perret Gentil, que por sua própria iniciativa levou famílias de colonos para ocupar a localidade, sendo dez famílias suíças, duas alemãs e cinco francesas, totalizando oitenta e cinco pessoas.

A ilha é conhecida por abrigar o Parque Nacional de Superagui, declarado Reserva da Biosfera em 1991 e Patrimônio da Humanidade em 1999, pela Unesco.

A comunidade da Barra do Superagui localiza-se na Ilha do Superagui, município de Guaraqueçaba, litoral norte do Estado do Paraná.

Abriga uma comunidade tradicional de cerca de 1.200 habitantes, cuja principal atividade econômica e característica sociocultural é a pesca artesanal.

Está situada no entorno do Parque Nacional do Superagui, criado em abril de 1989, para proteger o que é considerado um dos cinco mais importantes ecossistemas costeiros do mundo.

O entorno da comunidade possui características de relevante interesse ambiental.  Inclui florestas de restinga que abrigam grande variedade de orquídeas, o mico-leão-da-cara-preta (Leontopithecus chrysopygus caissara), e espécies ameaçadas de extinção como o papagaio chauá (Amazona brasiliensis) e a jacutinga  (Pipile jacutinga). As praias da Ilha do Superagui estão entre as últimas preservadas com características originais.

Histórico

Até três décadas atrás, seus habitantes combinavam a atividade pesqueira com a agrícola. Desde o final da década de 60 até meados da década de 80, a comunidade teve sérios conflitos pela posse da terra com uma empresa agropastoril e de interesses turísticos. Nesse período foi criada a Associação de Moradores, que lutou pelos direitos da comunidade até a saída da empresa da região.

Nos últimos anos, com o decréscimo da pesca, esta comunidade vem sofrendo com a ociosidade dos seus componentes. Em contrapartida, o crescente interesse turístico por áreas naturais preservadas mostrou-se como uma alternativa para a revitalização da economia local.

A partir de 1991, iniciou-se a estruturação de alguns estabelecimentos para atender à demanda turística na Barra do Superagüi, principalmente no que diz respeito aos meios de alimentação e meios de hospedagem. Tais iniciativas emanaram da própria comunidade, sem interferências de agentes externos. Os moradores buscaram por meios próprios organizar seus empreendimentos.

Atualmente a Associação dos Moradores encontra-se dividida por desentendimentos na comunidade. Dessa forma, sua efetividade na representação dos interesses da população local está enfraquecida.

Infraestrutura

Os meios de hospedagem compõem-se basicamente de pousadas e campings.

Nos períodos de maior movimento, há visitantes que optam pela locação de quartos ou de casas de moradores locais.

Existem 14 pousadas em atividade na Barra do Superagui, que totalizam uma oferta na ordem de 300 leitos. Em 88% dos casos, os quartos são disponibilizados com banheiros coletivos, enquanto 12% são apartamentos com banheiro individual. As construções têm acabamento simples e não há grande distinção na qualidade do padrão construtivo. A maioria é feita em madeira, geralmente com banheiros revestidos de azulejos e com telhas de amianto. Todas as pousadas são empresas familiares, e têm entre 3 e 4 funcionários (geralmente membros da própria família) que dividem tarefas.

Existem 3 áreas de camping que oferecem uma infraestrutura mínima. São em geral locais planos e com bastente sombra de árvores, banheiro, chuveiro e pia coletiva. Estima-se uma oferta para cerca de 150 barracas. Supondo uma média de 2 pessoas por barraca, essa modalidade de hospedagem gera uma oferta adicional de 300 leitos. Diversos moradores locam seus terrenos para os visitantes armarem barracas nos períodos de maior movimento.

Os meios de alimentação regular compõem-se de 8 bares, lanchonetes ou restaurantes. Alguns outros operam de forma sazonal, de acordo com o movimento de turistas. São de pequeno porte, com média de 11 mesas por restaurante/bar.

Servem frutos do mar, basicamente peixe e camarão, preparados de forma caseira. Não há muita variedade nos pratos, nem pratos “especialidades da casa”.

Algumas pousadas oferecem alimentação opcional aos seus hóspedes ou sob encomenda.

Existem 5  mercearias na comunidade que, apesar de concentrarem suas vendas principalmente nos moradores locais, também prestam serviço aos visitantes.

O transporte é feito principalmente através de voadeiras, que tem como principais características o alto custo, falta de conforto e pouca segurança. A opção é a utilização de embarcações de pesca, que tornam o transporte mais seguro, mas muito mais desconfortável e cerca de três vezes mais demorado.

Um detalhe importante é que não há licenciamento da Capitania dos Portos de nenhum desses dois tipos de embarcação para transporte de passageiros.

O abastecimento de água na comunidade é feito através de uma represa construída em uma nascente no Morro das Pacas e complementada com poços artesianos por alguns moradores e donos de pousada. A energia elétrica chega por cabo submarino vinda de Pontal do Sul, no continente, passando pela Ilha do Mel e Ilha das Peças.

Impactos econômicos do Ecoturismo

O Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPE) conduziu em julho de 2002 um estudo socioeconômico das comunidades do entorno do PARNA do Superagui, financiado pelo Fundo Nacional do Meio Ambiente (FNMA) e Conservation Strategy Fund ( CSF).

De acordo com essa pesquisa 93,47% dos moradores consideram o turismo uma boa alternativa para a região, pois a atividade pode melhorar financeiramente sua vida e também as condições de infraestrutura das vilas do parque.

Os moradores consideram que o turismo melhora sua condição de vida pois:

  • 13,45% gera renda através da compra do pescado para consumo dos turistas;
  • 34,50% mais serviços para a população, comércio, alimentação, passeios;
  • 5,85% os turistas são vistos também como benfeitores, cumprindo muitas vezes um papel de assistência social (providenciando atendimento médico ou transporte aos moradores doentes para serem atendidos em Paranaguá ou Guaraqueçaba, por exemplo;
  • 8,39% turistas empregam os moradores como caseiros ou como empregadas, aumentando a renda;
  • 6,43% venda de isca para pescadores amadores; e
  • 25,15% acham o turismo bom, mas não quiseram dizer o porquê.

No entanto, 6,43% das pessoas entrevistadas acreditam que o turismo não é bom para a região, pois:

  • 1,75% estas pessoas que não têm vínculos com o lugar não respeitam a população;
  • 4,3% degradam o meio ambiente;
  • 0,58% trazem drogas para a região;
  • 1,17% compram  casas dos moradores, somente para especular no mercado imobiliário; e
  • 1,17% não trazem benefício algum.

Para verificar o benefício financeiro que a atividade turística, atualmente operando de forma desordenada, traz aos moradores, foi avaliado o acréscimo na renda dos moradores locais gerado pelo turismo.

O resultado obtido foi que 42,60% dos moradores obtêm recursos financeiros do turismo na região, sendo que, em termos médios o aporte financeiro que entra para esses indivíduos fica distribuído desta forma (valores por semana):

  • 2,78% recebem até R$ 10,00;
  • 29,17% recebem de R$ 11,00 a R$ 50,00; 26,39% recebem de R$51,00 a R$100,00;
  • 31,94% recebem de R$ 101,00 a 500,00;
  • 6,94% recebem mais de R$500,00; e
  • 2,78% não sabem quanto ganham com a atividade.
Perfil da Demanda

Um estudo de demanda feito através de entrevistas constatou que:

  • 54% dos visitantes são do sexo feminino; e
  • 46%, do sexo masculino.

Com relação a faixa etária:

  • 10,2% têm entre 11 e 19 anos;
  • 42,1% têm entre 20 e 29 anos;
  • 28,9% têm entre 30 e 39 anos;
  • 14,5% têm entre 40 e 49 anos; e
  • 4,3%, têm 50 anos ou mais.

As origens dos visitantes são:

  • 67,2% são provenientes do Estado do Paraná;
  • 20,0% de São Paulo;
  • 4,3% Rio Grande do Sul;
  • 5,9% outros estados;
  • 2,6% estrangeiros em Superagui, que é pouco significativa.

A análise demonstrou que 17,0% dos entrevistados têm renda mensal de até R$1000, 28,9% na faixa entre R$1000 e R$2000, 19,1% entre R$2000 e R$3000, 14,9% entre R$3000 e R$4000 e 20,0% declararam ter renda superior a R$4000 (Figura 5).

Quanto à escolaridade, predomina a graduação completa (47,7%), seguida por 2º grau completo (36,2%), pós-graduação (mestrado ou doutorado) completa (7,7%), 2º grau incompleto (3,4%), 1º grau completo (3,0%) e, por último, o 1º grau incompleto (2,1%).

A maioria absoluta (60,0%) dos entrevistados é solteira, 29,4% são casados, 5,1% são separados, 4,3% são divorciados e 1,3% são viúvos.

A análise fatorial dos dados conclui que 6 (seis) fatores explicam a variabilidade dos interesses dos visitantes para a prática de atividades em Superagui. Em ordem de importância, são eles:

  • Observação da natureza
  • Contato com o mar
  • Atividades que envolvem grande esforço físico
  • Atividades que envolvem pequeno e médio esforço físico
  • Cultura local
  • Pesca

A percepção do local dos visitantes também é explicada por 6 fatores, sendo que o primeiro e o último são avaliados de forma positiva e os demais de forma negativa:

  • Tranquilidade do local
  • Limpeza do local
  • Disponibilidade de informações
  • Qualidade dos meios de acesso
  • Condições de saneamento
  • Qualidade da gastronomia

Com relação à motivação dos visitantes, ou seja, as razões consideradas na escolha de Superagui como destino, 3 fatores foram identificados, nessa ordem:

  • Imagem de esporte e aventura
  • Patrimônio natural
  • Patrimônio cultural
Conclusões

A característica mais importante do ecoturismo na Barra do Superagui é a origem comunitária das iniciativas. As restrições de compra e venda de imóveis impostas pelo IBAMA através da administração do Parque Nacional, tem garantido a manutenção dos empreendimentos pelos moradores locais.

Como pontos positivos principais desse cenário, podemos citar:

  • Renda e empregos gerados pela atividade permanecem quase que na totalidade no local;
  • Autenticidade nas práticas adotadas, permitindo um melhor contato do visitante com a cultura local;
  • Crescimento gradual da atividade, diluindo o impacto cultural e permitindo a manutenção de atividades tradicionais;
  • Percepção por parte da comunidade da importância da manutenção ambiental e cultural;
  • Incremento no comércio local de pescado, ajudando a diminuir custos de transporte e o efeito de atravessadores;
  • Alternativa de renda nas épocas de defeso, quando há restrições legais para a pesca;

Como principais pontos negativos do cenário do ecoturismo na Barra do Superagui, podemos citar:

  • Pouco conhecimento técnico por parte dos empreendedores, comprometendo a eficiência e, em grande parte, a qualidade dos serviços oferecidos;
  • Condições de higiene, saneamento e saúde na comunidade são deficientes;
  • Não há controle da visitação na comunidade e, dessa forma, não há estatísticas sobre o número de visitantes;
  • Nos períodos de maior movimento – ano novo e carnaval – há problemas de abastecimento de água na comunidade;
  • Falta de atividades para os visitantes, decorrente da falta de produtos turísticos desenvolvidos na região;
  • Falta de marketing estruturado dos empreendimentos locais, resultando em ciclos sazonais extremos;
  • Concentração da renda da atividade apenas nas mãos dos proprietários de pousadas;
  • Transporte inseguro e de custo relativamente elevado, devido à falta de embarcações apropriadas para o turismo;
  • Falta de oferta de financiamentos para a atividade acessíveis à comunidade;
  • Enfraquecimento da Associação dos Moradores, gerando uma baixa representatividade política da comunidade.

Percebe-se que o ecoturismo na comunidade da Barra do Superagui está passando por um período decisivo para a sua evolução. A origem comunitária criou um cenário favorável, mas é necessário agora suprir uma série de demandas públicas e privadas fundamentais para a sua sustentabilidade.

Dentre as principais, podemos citar: obras de saneamento básico, revitalização do posto de saúde, volta da atuação da polícia florestal, assessoria técnica para empreendedores, programas de educação ambiental e de desenvolvimento de monitores ambientais locais, fortalecimento da Associação de Moradores, oferta de crédito para investidores locais, melhoria dos meios de transporte, desenvolvimento de produtos e a respectiva formalização da comercialização desses produtos.

Dessa forma, espera-se que instituições governamentais e não-governamentais passem a atuar na continuidade do processo, colaborando para o sucesso de uma iniciativa louvável, sempre respeitando sua semente comunitária.

Informações complementares

As visitas à comunidade da Barra do Superagui podem ser tratadas diretamente com as pousadas.

Os acessos mais fáceis para Superagui são Paranaguá e a Ilha do Mel.

As tarifas médias praticadas são as seguintes:

Transporte em voadeira:

  • De Paranaguá: R$ 240,00 – Ida e volta para até 4 pax – Tempo de viagem entre 1:00h e 1:30h, dependendo das condições climáticas.
  • Da Ilha do Mel: R$ 40,00/pax – Ida e volta – Tempo de viagem entre 25 e 40 minutos, dependendo das condições climáticas

Hospedagem:

  • Apartamento com banheiro: R$ 60,00/casal com café da manhã
  • Quarto duplo ou quádruplo com banheiro coletivo: R$ 20,00/pax com café da manhã

Contato:

  • Pousada Sobre as Ondas (41) 9978-4213
  • Pousada Centauro (41) 9959-8427
  • Pousada Horizonte (41) 9998-2953
  • Pousada Bela Ilha (41) 9998-2953
  • Pousada da Cida (41) 9959-1889

 

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Roberto M.F. Mourão / ALBATROZ Planejamento
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