Estudos de Caso – Ambiente
Tour Mico-leão-dourado, Mercado Internacional (março 2007)

   

 

Autoria: Roberto M.F. Mourão, Instituto EcoBrasil
Revisão: Denise Rambaldi, Projeto Mico-leão-dourado PCMLD

 

Mico-leão-dourado (Leontopithecus rosalia)

O Mico-Leão-Dourado ((Leontopithecus rosalia) é um pequeno primata de pêlo alaranjado e cauda longa que atinge até 60 cm, quando adulto.

Seu nome vem da pelagem que possui ao redor da cabeça, semelhante à juba de um leão.

Vítima da própria beleza, foi capturado em grande número durante séculos, tendo sido um popular animal de estimação nas cortes européias do passado e no Brasil.

Mas a principal ameaça à sua sobrevivência veio da ocupação humana: como é um animal que só vive na Mata Atlântica de baixada litorânea do estado do Rio de Janeiro, ele sofreu todo o impacto dos desmatamentos que praticamente destruíram a vegetação nativa da região.

Enquanto existem menos de 7% de Mata Atlântica no Brasil, restam apenas cerca de 2% do tipo de Mata Atlântica que serve de habitat para o mico-leão-dourado, sendo  considerado um dos primatas mais ameaçados que existem.

Estudos de viabilidade de população e de habitat, realizados em 1990, 1997 e 2005, revelaram que o mico-leão só poderá ser considerado a salvo da extinção quando sua população na natureza atingir 2000 animais, e isso precisa ocorrer até 2025.

Reproduzindo-se bem em cativeiro e na mata, o mico-leão-dourado precisa apenas de mais habitat para dobrar a população atual.

Uma população de 2000 micos-leões necessita de pelo menos 25 mil hectares de matas interligadas, mas atualmente existem apenas 16.600 hectares disponíveis na Reserva Biológica de Poço das Antas (Ibama), na Reserva Biológica União (Ibama) e 30 propriedades privadas localizadas nos municípios de Silva Jardim, Casimiro de Abreu, Rio Bonito e Rio das Ostras (RJ), distribuídos em fragmentos florestais.

Embora vários fazendeiros locais estejam apoiando o Projeto, tendo criado Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs) e permitindo a reintrodução de famílias de micos em suas terras, a área disponível ainda não é suficiente.

Reserva Biológica de Poço das Antas

No início da década de 60, o primatologista Adelmar F. Coimbra Filho (1924-1981) estabeleceu as bases para um programa de salvamento da espécie: o Programa de Conservação do Mico-Leão-Dourado (PCMLD) começou no início dos anos 70 por meio da cooperação entre o Smithsonian Institution, Washington National Zoo, o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal – IBDF (atual IBAMA) e o Centro de Primatologia do Rio de Janeiro (CPRJ – FEEMA).  Reconhecendo a crítica situação do habitat da espécie, o IBDF criou em 1974 a Reserva Biológica de Poço das Antas, primeira unidade de conservação nessa categoria no Brasil. Em 1971, quando o PCMLD teve início, restavam apenas cerca de 200 indivíduos na natureza.

Hoje, o compromisso entre estas instituições transformou-se num esforço interdisciplinar e internacional para preservar, proteger e estudar o mico-leão-dourado e seu habitat, liderado pela Associação Mico-Leão-Dourado AMLD (www.micoleao.org.br), criada em 1992 para assegurar a sustentabilidade ao longo prazo deste esforço. Cientistas, educadores, gestores públicos, conservacionistas e as comunidades locais trabalham juntos para compreender a biologia destes animais e a ecologia de seu habitat, aperfeiçoar o bem-estar em cativeiro e desenvolver programas de educação ambiental dentro e fora do Brasil, sob a liderança da Associação.

PCMLD e o Ecoturismo Internacional

Há cerca de 15 anos a AMLD vem trabalhando na recepção de grupos de visitantes estrangeiros para a visualização de micos-leões-dourados em seu habitat, em propriedades particulares da região parceiras da Associação. São recebidos em média 150 ecoturistas por ano, procedentes da Europa e Estados Unidos. Esta atividade tem grande importância para a divulgação internacional da região como um destino ecoturístico e para divulgar e educar sobre a importância dos esforços para a conservação dos micos-leões e da Mata Atlântica.

Por questões relacionadas à capacidade de suporte, o programa recebe um número limitado de visitantes e o tour é operado com exclusividade por algumas agências de turismo, abaixo listadas:

Operação Ecoturística

Este estudo de caso e comentários relatam a experiência de empresas Bromélia Expeditions (Ariane Janér), Expeditours e Brazil EcoTravel (Roberto M.F. Mourão), com quase 20 anos de tradição em desenvolvimento e operação de produtos turísticos baseados em atrativos naturais e culturais.

Histórico / Fatos

(informações: Brazil EcoTravel / Compass Brazil)

  • as visitas ao projeto começaram em 1992, na Rio-92;
  • o programa foi desenvolvido pelas operadoras Bromélia Expeditions e Expeditours;
  • foram realizadas operações demonstrativas por cerca de 2 anos onde somente as 2 operadoras tinham permissão de operar pelos motivos:
    • monitorar eventuais stress e alterações comportamentais nos animais visitados,
    • controlar eventuais interferências nas pesquisas,
    • monitorar e ajustar a operação demonstrativa, possibilitando ser regular.
  • em meados da década de 90, ampliou-se a programação do tour PCMLD com visita à Fazenda Bom Retiro, que possuía uma fabrica de banana-passa, que atendeu à demanda da operadora especializada Brazil Ecotravel de servir um almoço “caseiro” na agradável varanda da sede. Com o tempo, a Fazenda, atualmente uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) onde há micos reintroduzidos, construiu uma pequena pousada e ampliou seus os serviços fornecendo hospedagem e alimentação;
  • desde a autorização para outras operadoras atuarem (~ 2002/2003), poucas conseguem comercializar o produto;
  • as visitas são agendadas com bastante antecedência (5 a 6 meses antes do primeiro grupo) e com preços fixos por todo o ano. Os grupos de visitantes são pequenos (em média 6 pax) causando pouco ou nenhum impacto nos animais, trilhas e o programa;
  • a operadora BEC mantém operação regular (vide a seguir exemplo de operação de seriados com sua cliente International Expeditions (IE), que ocorrem de abril a novembro);
  • pela carência de guias naturalistas confiáveis, a BEC contrata e desloca guias residentes em Belo Horizonte – Fred Tavares e Regina Ribeiro, especialistas em birdwatching, que acompanham os grupos IE a Foz do Iguaçu e Rio de Janeiro;
  • além da visita ao PCMLD, o programa inclui visita ao Parna Serra dos Órgãos, com pernoite em Teresópolis (Pousada Urikana); certos grupos solicitam 2 visitas aos grupos de micos reintroduzidos (p.ex. sociedades de amigos de zoológicos ou doadores) e neste caso o pernoite é feito em Casimiro de Abreu (Hotel Patropi).

Análise SWOT

Pontos Fortes
  • iniciado há cerca de 30 anos é a primeira e mais antiga iniciativa apoiada pelo WWF no Brasil;
  • farta quantidade de informações cientificas produzida e disponibilizada;
  • espécie carismática e muito conhecida nos meios acadêmico, cientifico e ambiental;
  • 40 entidades entre ongs, universidades e empresas participam do Projeto;
  • o projeto reúne 148 zoológicos no mundo em programas de reprodução em cativeiro;
  • existência de “centro de treinamento” preparativo para micos nascidos no Washington National Zoo que serão reintroduzidos, que no verão divulga o programa aos visitantes; os micos ficam soltos durante o verão servindo ao programa de educação ambiental do zôo. Devemos salientar que, segundo pesquisa do PCMLD, foi comprovado cientificamente que a pré-soltura dos animais não aumenta a sobrevivência dos animais reintroduzidos no habitat natural – o que realmente aumenta a sobrevivência é o tratamento pós-soltura, ou seja: fornecimento de “oco artificial” (abrigo), suplementação alimentar, acompanhamento e eventuais cuidados veterinários, entre outros.
  • fácil acesso por rodovia asfaltada, a partir de importante portão de entrada turístico internacional – Rio de Janeiro (1 ½ ~ 2 hora de viagem);
  • avistagem garantida – 100% de avistagem nos grupos da BEC;
  • sede do PMLD em Silva Jardim com boas e conservadas instalações permitindo apresentar vídeos, realizar palestras e espaço sombreado para lanches;
  • projeto emprega em sua maioria de mão de obra local dos municípios Silva Jardim e Casimiro de Abreu;
  • projeto com excelente reputação local e regional, fruto do trabalho de informação e educação ambiental, sobretudo em escolas;
  • projeto motivou a criação de Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs) na região, onde são o programa faz a reintrodução de micos;
  • para contornar um dos problemas que ameaçam a sobrevivência da espécie: a falta de habitat, estão sendo criados “corredores florestais” em florestas de propriedades particulares que, além das Reserva Biológicas de Poço das Antas e Reserva Biológica União, também abrigam micos, que foram reintroduzidos e são estudados e monitorados sistematicamente – estes corredores, estão se tornando corredores de fauna permitindo atividade de observação da vida silvestre.
  • projeto é referência nacional e internacional para estudos, manejo e conservação de primatas neotropicais ameaçados de extinção.
Pontos Fracos

  • equipes e infra-estrutura prioritariamente voltada para as pesquisas, manejo e conservação da espécie e do habitat, limitando o fluxo de visitantes;
  • produto caro para o mercado nacional;
  • cartazes informativos sobre a espécie, projeto e região no centro de visitantes somente em português (por ser prioritariamente usado para educação ambiental na região);
  • nos últimos 10 anos poucos operadores (mesmo especializados) se interessaram pelo produto, sobretudo por dificuldades operacionais:
  • carência de guias naturalistas disponíveis in loco ou região,
  • custo alto vis-à-vis outros produtos turísticos,
  • dificuldade de comunicação com Poços da Antas, que tem melhorado,
  • carência de guias naturalistas experientes (a BEC contrata e desloca guias residentes em Belo Horizonte – Fred Tavares e Regina Ribeiro, ambos especialistas em observação de aves, que acompanham os grupos em Foz do Iguaçu e Rio de Janeiro);
Oportunidades
  • o produto turístico pode ser ampliado e melhorado – o que já foi experimentado com sucesso – com a inclusão de visita ao Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ – onde pode-se ver quase todos os primatas brasileiros, inclusive o maior primata das Américas: o Muriqui ou Mono-carvoeiro (Brachyteles arachnoides).
  • promover o destino para grupos de turismo cientifico, primatologistas, para estudantes e pesquisadores;
  • promover o destino junto a associações de amigos de zoológicos;
  • promover o destino por meio de organizações não-governamentais relacionadas com conservação (WWF, CI, TNC, etc.)
  • aumentar a oferta de brindes da marca Mico Leão Dourado e de outras espécies da Mata Atlântica, inclusive com a possibilidade da criação de oportunidades de negócios para a comunidade local com a produção de artesanato e brindes (camisetas / silk screen, produtos artesanais com fibras naturais – bananeira);
Ameaças
  • possibilidade de impacto no comportamento da espécie com aumento fluxo turístico;
  • comprometimento da qualidade da visitação com aumento fluxo turístico.

Centro de Primatologia do Rio de Janeiro CPRJ

O Centro de Primatologia do Rio de Janeiro – CPRJ/INEA, administrado pela Fundação Estadual de Engenharia e Meio Ambiente, atual Instituto Estadual do Ambiente RJ – INEA, é uma referência mundial em pesquisas com primatas neotropicais.

Criado no início da década de 70, o CPRJ foi o precursor dos trabalhos de conservação de diversas espécies de primatas brasileiros ameaçados de extinção.

Localizado nos municípios de Guapimirim e Cachoeiras de Macacú, o CPRJ está inserido na Estação Ecológica Estadual do Paraíso.

De relevo acidentado e inúmeras formações rochosas, trata-se de área com belíssimas paisagens naturais, exuberante cobertura florestal e valiosos mananciais hídricos responsáveis pelo abastecimento público de diversos municípios  fluminense.

Para potencializar as oportunidades de pesquisas, proteção e recuperação florestal e o empreendedorismo comunitário, a INEA-FEEMA e a Associação Mico-Leão-Dourado, com apoio da Conservation International – CI e recursos de medidas compensatórias da Usina Termelétrica Norte Fluminense, estão implementando um projeto de consolidação da Estação Ecológica Estadual do Paraíso e do Centro de Primatologia do Rio Janeiro.

A gestão destas áreas deve ser integrada às outras Unidades de Conservação existentes na região como o Parque Nacional da Serra dos Órgãos, Parque Estadual dos Três Picos e Áreas de Proteção Ambiental de Guapimirim, Cachoeiras de Macacú e da Bacia do rio São João/Mico-Leão-Dourado.

Este mosaico de áreas protegidas abriga importantes ecossistemas e habitats representativos da biodiversidade da Mata Atlântica e forma uma grande porção contínua do Corredor da Serra do Mar e são ainda considerados áreas núcleo da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, constituindo-se um importante espaço para o turismo de natureza a ser utilizado para o ecoturismo.

Full-Day Golden-Lion-tamarin Conservation Project (+ Lunch)

Operation: Brazil EcoTravel / Compass Brazil

Tarifários 2005 / 2006 / 2007

RPPN Fazenda Bom Retiro, uma experiência de sucesso

Há mais de uma década, a AMLD trabalha em parceria com a RPPN Fazenda Bom Retiro, localizada em Casimiro de Abreu.

Transformada em RPPN em 1994, esta fazenda passou a dedicar-se integralmente ao ecoturismo. Para isso, contou com apoio da AMLD para o desenvolvimento de estudos da viabilidade econômica e planejamento para adequação da infraestrutura.

A reintrodução de micos-leões foi feita na década de 90, no entanto devido à topografia da área, o monitoramento destes animais e a visitação por ecoturistas, representam um elevado grau de dificuldade. Mas isso não desvalorizou o atrativo, ao contrário, a fazenda investiu em roteiros opcionais e passou a receber visitantes que passam somente o dia desfrutando das belezas do local, e também aqueles que se hospedam na propriedade e tem mais tempo para saborear a deliciosa comida caseira e orgânica.

Anualmente, centenas de visitantes, dentre parceiros, financiadores, equipes de filmagens, pesquisadores e ecoturistas, são encaminhados pela AMLD para conhecer a Fazenda Bom Retiro. Com isso, o ecoturismo representa a principal fonte de renda da propriedade.

Full-Day Golden-Lion-tamarin Conservation Project + Lunch at RPPN Fazenda Bom Retiro

Operation: Brazil EcoTravel / Compass Brazil

Notas:

  • as visitas são realizadas nas fazendas situadas no entorno (zona de amortecimento) da Reserva Biológica de Poço das Antas;
  • na Reserva somente são permitidas visitas até o Centro Educativo, ou então quando se tratam de pesquisadoresautorizados previamente pelo IBAMA;
  • esses valores referem-se a programa de 8~10 horas de duração (full day) a partir da cidade do Rio de Janeiro;
  • os seriados da I.E. incluem visita ao Parque Nacional da Serra dos Órgãos, com pernoite em Teresópolis;
  • o tamanho médio dos grupos do seriado I.E. é de 6 pax por Grupo, com um máximo de 15 pax;
  • em caso de grupos maiores com mais de 15 pessoas (p.ex. navios), os grupos são divididos e distribuídos em mais de uma propriedade;
  • os custos podem eventualmente incluir custos de refeições de guias e taxa ao fazendeiro;
  • renda extra é gerada por doações espontâneas e aquisição de produtos camisetas, bonés e outros brindes;
Bases 7 – 9 e 15 Pax / Período: 2005

Indicador padrão BEC: Custo médio U$ 100~180 per Pax por Dia (hospedagem compartida + 3 refeições + 1 a 2 atividades/dia)

 

2005 IE Pantanal 10 day with Rio & PCMLD & P.N. Serra dos Orgãos Extention
 

Guias: FT = Fred Tavares, Brasil Aventuras e RR = Regina Ribeiro / Mammal Watching

 

Golden Lion Tamarin
Poço das Antas Biological Reserve Area Visit
Full Day Program / Easy To Moderate Level

Formulário de Pesquisa para Guias e Clientes.
Em todos os Tours da Brazil Ecotravel eram feitas pesquisa.
Obrigatórias para Guias. Opcional para Ecoturistas.


 

 


Rio-92 Pre-Post Tours Expeditours / Abav-Embratur-EcoBrasil

Faça download da publicação: Informe Abav – Conhecer para Respeitar, Mico-leão-dourado (clipping, pdf, junho 1992)

 

Roberto M.F. Mourão / ALBATROZ Planejamento
Informações, uso e permissões favor contatar: roberto@albatroz.eco.br

 

Parceiros e Apoiadores